Tripulantes

Xeno
Especialista em aleatoridade, ganhador do prêmio nobel do charme, mestre em despejar água no filtro de cafe, gosta de longas caminhadas na praia após violentos massacres sanguinários.

Torugo
Vagabundo por profissão, atoa por opção, idiota por exclusão, previsível por absurdo.

Eldronin
De 84 anos de idade, foi abduzido em 1934 e conservado todo esse tempo em uma banheira de anti-vida. Seus ossos tem coloração mínima de apenas 4 cores.

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Deborah Happ

I'll build my own Republic, with black jack and hookers. In fact, screw the Republic!

2012/11/24

O general e o cozinheiro

"Será uma morte lenta", assegurou o general, "faz parte do contrato", enquanto o cozinheiro deslisava sua faca pelo pescoço de Felipe, linhas verticais em torno de seu pomo. O suficiente para um fino traco vermelho sangue brotar.
"Não, não, por favor, você não entende, eu num posso morrer.. tenho muita coisa pra vê ainda". O general ouvia o garoto suplicar do canto da sala, longe o suficiente para não manchar sua farda, mas perto o suficiente para garantir que o contrato seria cumprido. Os termos eram claros, a morte viria, lentamente, das mãos de ambos.
"Olha o que eu fiz pra vocês? Bah, eu ando aqui em Cuzco faz um tempo já, fiz umas merdas, eu to sabendo, mas quem eh que não faz?". A faca continuava seu caminho pelo peito. Mamilos, barriga, umbigo, tudo já jorrava sangue. Mas o cozinheiro sabia que essa era só a parte "lenta" do contrato, não a morte.

"Porra, eh dinheiro que vocês querem? Não tem um puto na minha bolsa, mas deve ter alguma coca." "Folha de coca?", o general respondeu prontamente, e a faca do cozinheiro interrompeu sua jornada a dois dedos do umbigo de Felipe. "Não velho, porra, o pó, não deve ter muito, mas eh tudo de vocês". Os olhos do general voltaram para o mesmo vazio de antes, e o cozinheiro terminou seu trajeto. O garoto já era vermelho de cima a baixo, mas ainda não tinha gritado. Dor não estava no contrato. Para o próximo passo, o cozinheiro precisaria de outra faca. "Não, espera, eu entendi, eu sumo daqui, não, a boca, aaaaahrg". Felipe resistia com toda a forca que restava, mas cortar a língua de alguem para o cozinheiro era tao natural quanto fatiar cebolas.

"Preste atenção, Felipe. Você vai morrer. E lentamente. Dor não está no contrato, mas a sua língua era necessária". Mais um detalhe contratual do que puro sadismo, a língua dos jurados de morte tinha que ser removida para evitar argumentacão. Um pouco de dor também torna a próxima parte mais aceitável, da algo para o jurado pensar enquanto a morte não chega. "Nosso contrato foi firmado pela sua irmã, onze meses atrás, ainda no Brasil. Ela quer que você morra, e lentamente". O sangue jorrava pela boca do garoto, mas o cozinheiro providenciara que a cadeira estivesse levemente inclinada para frente, evitando um eventual sufocamento, e consequente quebra contratual.

A expressão nos olhos da pessoa que acabou de descobrir quem ordenou sua morte varia muito. Muitas riem, algumas choram descontroladamente, outras juram vingança - mesmo com a língua cortada. Na classificacao feita pelo general, Felipe decidira pelo descontentamento e profunda tristeza. Nos ultimos três meses que acompanhou Felipe, o garoto ligava frequentemente para Porto Alegre, para o mesmo numero que, meses antes, havia firmado seu contrato. De certo que reconhecer o nome de seu assassino deve causar sofrimento, mas o general gostava de deixar essas divagacoes filosóficas para o cozinheiro.

Já pálido, o garoto nao resistia mais. O chão já continha grande parte do seu sangue. Mas o cozinheiro sabia que aquela deveria ser uma morte lenta e, tal como as clássicas tentativas de suicido por corte dos pulsos, uma pessoa raramente morre por hemorragia se o corte não atinge uma artéria. E, é claro, a sobrevivencia de Felipe não era opcao, nem mesmo uma possibilidade. Sua morte era um fato, e o cozinheiro havia garantido isso com a quantidade e profundidade exata de cortes pelo seu corpo. Uma lenta, mas relativamente indolor, morte estava assegurada por hemorragia.

O general contudo ainda não havia feito sua parte. Retirou um pacote de pilulas brancas do bolso e caminhou lentamente em direcao a Felipe. Nao para deixar a cena mais tensa, mas para evitar que gotas de sangue respingassem em suas calcas. "Engula essas garoto, vai te ajudar", disse o general enquanto gentilmente forcava as aspirinas pela garganta de Felipe. A ausência de língua torna o processo de engolimento mais complicado, mas o sangue ajudou as aspirinas a descerem.

Sentados, o general e o cozinheiro permaneceram pelos próximos setenta e cinco minutos em silencio, observando o garoto, em hemorragia intensa, sangrar até a morte. A gravacao só então foi interrompida. Embora considerada uma quebra de privacidade pelo general, gravar a morte de um jurado havia sido uma forma muito mais limpa de provar o comprimento do contrato do que como nos velhos temos, quando uma cabeça na caixa era pratica comum do mercado. Morte às 12:07, Cuzco, Peru.


Por: Vitor Hugo Louzada @ 21:24
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